MARIA FILIPA - HEROÍNA ESQUECIDA
Maria Filipa |
Enviado por Jose Bahiana em 22/07/2010
publicado em http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2392653
No dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, nas proximidades da cidade de São Paulo, D. Pedro I deu o famoso grito proclamando “Independência ou Morte” acreditando ser possível assim libertar o Brasil de Portugal. Ledo engano. O seu grito foi apenas uma tênue sensação de liberdade, pois no país ainda havia uma grande dominação portuguesa que insistia em permanecer.
Independência do Brasil |
Gen. Madeira de Melo |
Enquanto isso na Bahia havia dominação total pelas forças do general Madeira de Melo, antipatizado pela população, e também havia uma imensa colônia portuguesa que praticava intensa rivalidade com os baianos e viceversa. Era comum se ver atentados de brasileiros a residentes portugueses em Salvador e nas cidades do Recôncavo. Em 1823, tropas leais a Portugal vieram a Salvador para dar apoio aos soldados comandados pelo General Madeira de Melo.
Nascida Maria Filipa de Oliveira (originalmente Maria “Filipa”, com “i”), nascida em Gameleira, na Ilha de Itaparica, mais precisamente no povoado de Ponta das Baleias. Era uma negra livre, alta, disposta, “marisqueira” e capoeirista era considerada como uma grande liderança na sua região. Segundo pesquisadores era negra descendente de sudaneses. Nessa época era muito jovem, estava com cerca de 20 a 22 anos de idade.
Conhecida como exímia capoeirista, sempre viajava de saveiro até o Cais Dourado, em Salvador, onde disputava com os melhores capoeiristas da terra e era também respeitada como tal. Nessas idas e vindas, colhia informações sobre a situação das tropas portuguesas na capital e no Recôncavo da Bahia, com certeza no intuito de projetar as suas ações na Ilha de Itaparica, onde havia uma grande colônia de portugueses. Na ilha costumava subir em arvores para fiscalizar as posições das tropas inimigas na baía de Todos os Santos.
Planta do Forte de São Lourenço Ilha de Itaparica-Ba Imagem: Google |
Conta o escritor Xavier Marques que foi autora de uma tremenda surra de cansanção dada num vigia português conhecido como Guimarães das Uvas.
Maria Filipa foi a mulher que participou do cerco a Salvador, liderando em 1823 dezenas de pessoas (homens, índios e mulheres) na queima das 42 embarcações das comunidades portuguesas aportadas na Praia do Convento e que iriam atacar a capital, inclusive participando do famoso grupo de mulheres conhecido como “as vedetas da praia” que atacaram os portugueses a cipoadas. Essas mulheres sob sua liderança lutaram furiosamente confiando na força que emanava de um sentimento nativista absoluto. Havia nelas o orgulho da participação na libertação do nosso país.
Informações sobre esta heroína baiana são escassas. Podem ser colhidas pela oralidade do povo da ilha de Itaparica. Algumas referências escritas podem ser lidas em livros dos escritores Ubaldo Osório, Xavier Marques e João Ubaldo Ribeiro. Muita coisa foi resgatada por alunos e técnicos em turismo das Faculdades Olga Mettig (FAMETTIG), de Salvador, e a eles se de e o fato do seu reconhecimento. Por ser uma heroína negra e por ter lutado contra os portugueses, durante muito tempo formou-se uma cortina de silêncio em torno de suas ações que de alguma forma foram tidas como fatores de rebeldia. Na ilha, as pessoas tinham verdadeiro pavor de tratar desse assunto e serem torturadas, pois ela, por ser negra e pobre, foi considerada uma bandoleira pelos reacionários da ilha. Isso fez com que as informações sobre a história da nossa gloriosa Maria Filipa fossem paulatinamente disponibilizadas. Uma das suas bisnetas conhecida como Dona Zizi se negava a contar façanhas de Maria Felipa, acreditando que seria presa se o fizesse. Como felizmente atos heróicos não ficam esquecidos, gradualmente a verdade vem chegando ao conhecimento do público.
Depois de tais façanhas, Maria Filipa retornou à sua vida normal como marisqueira e capoeirista, até a sua morte em 4 de fevereiro de 1873. Segundo a pesquisadora Priscila Caldas que encontrou o seu registro de Óbito no Cartório de Maragogipe, Maria Filipa teve uma filha a quem deu o seu nome, que foi parteira na ilha, avó de D. Zizi.
Segundo relata o escritor Ubaldo Osório, já em 1905 foi apresentada à Câmara Municipal de Itaparica um documento solicitando a colocação do nome Maria Filipa num logradouro daquele município, fato que foi desconsiderado. Hoje existe uma rua com o seu nome nesse município, iniciativa tomada no ano de 2007.
Em Salvador existe uma Avenida Maria “Felipa” nas cercanias da Avenida Anita Garibaldi, bairro da Federação, e uma rua Maria “Felipa” no Engenho Velho de Brotas.
José Bahiana
Vamos prestar uma grande homenagem a esta grande brasileira, nomeando a
ResponderExcluirponte Salvador Itaparica: Ponte Maria Filipa de Oliveira.
Grande heroína do Recôncavo da Bahia. Um salve a todas as guerreiras negras!Enilda Suzart /Professora de História
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