NICOLAU ROMANOV - ARQUIVOS CONFIDENCIAIS
por Ana Claudia Fonseca - Revista Época
Provavelmente Nicolau II não foi nem o santo descrito pelos monarquistas nem o monstro apresentado pelos comunistas. Foi o ator meio impotente de um período conturbado por vários conflitos, dentre eles a desastrosa campanha contra o Japão (1904-1905) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A situação caótica da Rússia de seu tempo causou grande aumento de preços e escassez generalizada, o que, evidentemente, se traduziu em distúrbios sociais. Pinta-se um quadro tão negro que se diz que a taxa de suicídios triplicou nos últimos anos de seu governo. Com base nesse cenário, é pouco provável que mesmo um soberano mais experiente e menos indeciso que Nicolau II conseguisse evitar a catástrofe. Em 1917 o czar foi obrigado a renunciar ao trono que sua família ocupava há 300 anos, deixando, nas mãos dos revolucionários, o governo de um império que ia do Mar Báltico ao Oceano Pacífico e que abrigava 130 milhões de pessoas.
Ao largar a coroa Nicolau II foi preso e levado de trem através da Sibéria até a cidade mineira de Ecaterimburgo, a 1.500 quilômetros de Moscou. Ali ficou detido, junto com sua família, durante 16 meses em uma pequena casa cercada com muros altíssimos. Incomunicável, até o fim guardou a certeza de que seus ex-súditos derrubariam os bolcheviques e o recolocariam no trono. Essa esperança foi sua sentença de morte. Com medo de que os contra-revolucionários descobrissem o esconderijo, os bolcheviques pressionaram Moscou, que terminou por enviar um telegrama no dia 16 de julho de 1918 com a ordem de executar os Romanov. Na noite seguinte o czar, sua mulher e seus cinco filhos, além de quatro empregados e do cachorro de estimação das crianças, foram levados ao porão da casa e amontoados em uma pequena sala sem móveis. Ali foram fuzilados por um grupo de camponeses e ex-presidiários comunistas liderados por Yakov Yurovsky, um fotógrafo profissional. Em poucos segundos os corpos empilhavam-se no chão. Alexei, herdeiro do trono, tinha 14 anos quando morreu. Era o mais jovem membro da família.
O medo da reação popular fez com que os matadores, a mando de Lenin, tentassem livrar-se das provas da execução. Os corpos foram esquartejados, queimados com ácido e o que sobrou acabou enterrado em uma vala comum no meio da floresta siberiana. Lá permaneceram até 1979, quando foram encontrados por um cineasta e um geólogo. Os dois guardaram segredo do achado por dez anos. Após, 80 anos depois de sua morte, a família imperial ganha a chance de conseguir, enfim, descansar em paz.
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