Novo Acordo Ortográfico - um novo jeito de escrever
O acordo vem para coadunar a ortografia oficial dos países de língua portuguesa e aproximar nações.
"A adopção de uma única ortografia entre países de língua portuguesa pode ser óptima.” Se este texto fosse escrito em Portugal, a frase anterior estaria corretíssima. Já no Brasil, a letra“P” (nas palavras adopção e óptima) está sobrando e parece um erro de digitação – apesar de todos sabermos que se trata do mesmo idioma. Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre os dois países. Nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), ocorre o mesmo.
Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico – que vigora no Brasil desde 2009. “A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público”, defendia o filólogo Antônio Houaiss, o principal responsável pelo processo de uniformização da língua aqui no Brasil.
Originalmente, o combinado era que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deveriam ratificar o acordo para que ele tivesse valor. Em 2004, porém, os chefes de Estado da CPLP decidiram que bastava a aprovação de três nações para a reforma ortográfica entrar em vigor. O Brasil, no entanto, definiu que mudaria o jeito de escrever somente se Portugal também o fizesse (e o “sim” de Lisboa às novas normas só veio em 2007). É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a uniformização da grafia de algumas palavras.
Língua internacional
Daqui para frente, a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço – até mesmo em fóruns internacionais –, pois o intercâmbio de informações e textos ficará mais fácil. Coadunar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir custos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre especialistas).
Do ponto de vista prático, ganha força o idioma falado no Brasil. Isso porque os portugueses terão de promover mais mudanças na escrita do que nós, adaptando várias palavras à grafia brasileira. Por exemplo, acção passa a ser ação. E cai também o “H” inicial de herva e húmido.
O português é a única língua com dois cânones oficiais ortográficos, um europeu e outro brasileiro, e isso não só dificulta nossa vida lá fora como também a dos estrangeiros que querem aprendê-lo. “Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da uniformização de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia”, afirma Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Além da uniformização da grafia, o acordo propõe simplificar o idioma, no mesmo espírito do que ocorreu na década de 1910, quando uma reforma semelhante alterou o modo de escrever palavras como pharmacia e christallino (para farmácia e cristalino, sem o “PH”, o “CH” e o “LL”). Na época, porém, as mudanças foram encabeçadas por Portugal, que não consultou o Brasil e acabou aprofundando algumas diferenças ortográficas.
O acordo prevê simplificações (como o fim do trema), mas tem inúmeros pontos obscuros, que só serão esclarecidos com o lançamento de gramáticas atualizadas e um novo Vocabulário Ortográfico oficial (tarefa a cargo da Academia Brasileira de Letras).
Tempo de adaptação
Aqui no Brasil, a última grande reforma do idioma foi realizada em 1971, a fim de aproximar mais nosso jeito de escrever do de Portugal. Desde então foi abolido o acento diferencial em alguns vocábulos, bem como o acento grave ou circunflexo nas palavras derivadas de outras acentuadas – mais de dois terços dos acentos que causavam divergências foram suprimidos. Nessa mesma época os substantivos acôrdo e govêrno viraram acordo e governo (perderam o circunflexo que os diferenciava das formas verbais eu acordo e eu governo, que eram e continuam sendo pronunciadas de forma diferente). Outras palavras, como somente, propriamente, rapidamente, cortesmente, sozinho, cafezinho e cafezal, também deixaram de ser acentuadas. Naquela ocasião, muitas pessoas estranharam a alteração (sem falar que diversos materiais impressos, como livros, levaram um bom tempo até ter novas edições com o jeito certo de escrever). Até hoje, aliás, ainda há quem escreva êle, com o circunflexo extinto no início dos anos 1970.
Mudança no uso do acento agudo
- nos ditongos (encontro de duas vogais proferidas em uma só sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítonas;
- nas palavras paroxítonas com i e u tônicos que formam hiato (seqüência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes);
- nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com o u tônico precedidos das letras g ou q e seguido de e ou i; (essa é facílima de decorar!)
- O acento diferencial é aquele que usamos para diferenciar palavras que se escrevem da mesma forma (homófonas) como por exemplo:
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
assembléia | assembleia |
heróico | heroico |
idéia | ideia |
jibóia | jiboia |
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
baiúca | baiuca |
boiúna | boiuna |
feiúra | feiura |
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
argúis | arguis |
argúem | arguem |
redargúis | redarguis |
redargúem | redarguem |
Seja sincero, você já ouviu alguma dessas palavras alguma vez na sua vida?
Mudança no uso do acento diferencial
- pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido com a preposição por;
- pôde (o verbo conjugado no passado) também mantém o circunflexo para que não haja confusão com pode (o mesmo verbo conjugado no presente).
- Obs.: Nas palavras fôrma/forma o acento é facultativo.
Mudança no uso do acento circunflexo
- O acento circunflexo nas palavras terminadas em oo também deixa de existir
péla (verbo pelar) | pela (por + a) |
pélo (verbo pelar) | pêlo (pentelho) |
pára (verbo parar) | para (preposição) |
pólo (norte/sul) | polo (por + lo) |
Os acentos diferenciais deixam de existir, exceto duas palavras que continuarão com os acentos, são elas:
- Na terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar,ler, ver, como nos casos que se seguem:
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
enjôo | enjoo |
vôo | voo |
abençôo | abençoo |
magôo | magoo |
perdôo | perdoo |
corôo | coroo |
- O trema finalmente deixa de existir, aquele sinalzinho ortográfico que fica ali sobre o número 6 do seu teclado não será mais usado em palavras do nosso idioma
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
crêem | creem |
dêem | deem |
lêem | leem |
vêem | veem |
descrêem | descreem |
relêem | releem |
revêem | reveem |
Obs.: os verbos ter, vir e seus derivados permanecem com o circunflexo no plural (eles têm, eles vêm) ou seus derivados (ele intervém, ele detém)
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
agüentar | aguentar |
eloqüente | eloquente |
freqüente | frequente |
lingüiça | linguiça |
sagüi | sagui |
seqüestro | sequestro |
tranqüilo | tranquilo |
anhangüera | anhanguera |
Mudança no uso do hífen em palavras compostas
O hífen deixará de ser usado nas palavras compostas quando:
Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes s ou r .
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
anti-religioso | antirreligioso |
anti-semita | antissemita |
contra-regra | contrarregra |
contra-senha | contrassenha |
extra-regulamentação | extrarregulamentação |
- Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
auto-aprendizagem | autoaprendizagem |
auto-escola | autoescola |
auto-estrada | autoestrada |
extra-escolar | extraescolar |
- Por força da regra anterior, usa-se o hífen quando o primeiro elemento (prefixo) terminar em vogal e o segundo elemento começar com a mesma vogal.
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
antiinfeccioso | anti-infeccioso |
microondas | micro-ondas |
arquiinimigo | arqui-inimigo |
macroorganização | macro-organização |
- Em certos compostos em que já se perdeu a noção de composição, grafam-se aglutinadamente.
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
manda-chuva | mandachuva |
pára-quedas | paraquedas |
O alfabeto português passa a ter 26 letras. Além das atuais, foram incorporadas ao alfabeto as letras k, w e y. Porém seu uso fica restrito a apenas alguns casos, como já ocorre atualmente. Veja os principais exemplos:
- Em nomes próprios de pessoas e seus derivados, como Franklin, frankliniano,Darwin, darwinismo e etc.
- Em nomes próprios de lugares originários de outras línguas, como Kwait, kwaitiano,Washington, etc.
- Em símbolos, abreviaturas, siglas e palavras adotadas como unidades de medidas internacionais. Exemplos: km (quilômetro), KLM (companhia aérea), K (potássio), W(watt), www (world wide web) e etc.
Considerações gerais
Boa parte ds mudanças previstas no novo acordo não afeta o português escrito no Brasil, mas sim, o idioma escrito em Portugal onde a letra h no início de palavras como herva e húmidopassam a ser escrito como no Brasil, além disso, como regra geral desaparecem o c e o p de palavras onde essas letras não são pronunciadas.
ERA ASSIM | FICA ASSIM |
acção | ação |
aflicto | aflito |
colectivo | coletivo |
director | diretor |
exacto | exato |
baptizar | batizar |
exactamente | exatamente |
correcto | correto |
Boa Tarde.
ResponderExcluirComecei a ler e surgiu-me uma dúvida
O que significa a palavra "herva" , Nos dicionários que por aqui tenho não encontro a palavra
Agradeço a sua disponibilidade
grata
anA
Prezada Ana,
ResponderExcluirBoa tarde! Obrigado por ter entrado em contato conosco.O texto postado no Museu Vivo na Cidade, é uma adaptação da Revista Escola. "Herva"é o mesmo que "erva" = planta. Sendo que agora, nos países de língua portuguesa, a palavra será escrita apenas como ERVA.
Em Portugal, a palavra que antes se escrevia como "Húmido" passou a ser igual como se escreve no Brasil - úmido.
Encontrei controvérsias quanto a grafia em Portugal. Um leitor do site:http://novaortografia.com/o-que-muda-em-portugal/ - postou o seguinte comentário: A palavra “erva” - planta nunca se escreveu em Portugal com a letra “h”
A palavra “húmido” ~sim- escreveu-se sempre com “h”. - Delfim de Sousa.
Caso tenha algum artigo o informações que queira contribuir, serão vem vindas!
Atenciosamente,