A INJUSTIÇADA

Princesa Isabel
Acervo: Família Imperial



No dia 8 de maio de 1888, a Princesa Isabel, representando o Governo (seu Pai estava na Europa), encaminha para a Câmara de Deputados, Projeto de Lei, libertando os escravos. Dois dias depois, é aprovado pela Câmara e enviado ao Senado. No dia 13 de maio. a Princesa que estava em Petrópolis, impaciente com a demora na aprovação, desce para o Rio de Janeiro e aguarda no Paço a votação no Senado, pronta para sancionar e mandar promulgar. Às 13:30 horas, em público, Isabel assina a Lei Áurea. Ao cumprimentá-la, o Barão de Cotegipe é inquirido: Então Sr. Barão, ganhei ou não ganhei a partida? A resposta veio de imediato “ganhou a partida mas perdeu o trono”. Estava abolida a escravidão no Brasil. 


Ela sabia o que ia acontecer, mas como grande estadista que era, não podia fraquejar, não podia adotar, frente à história, uma postura política mesquinha, por isso mesmo é a grande figura da abolição da escravatura no Brasil. Desde cedo, protegia negros fugitivos, financiava com seu próprio dinheiro, a alforria de ex-escravos, chegando mesmo a recebê-los em sua residência em Petrópolis. 

Abolição da escravatura – Victor Meirelles
Esta pintura foi mantida no Castelo d’Eu até 1921, ano em que a princesa Isabel faleceu, sendo adquirida diretamente de seus descendentes pelo banco Itaú para seu acervo cultural .



O abolicionista André Rebouças escreveu em seu diário, que no dia 14 de maio de 1888, almoçaram no Palácio Imperial, 14 africanos fugidos das fazendas circunvizinhas de Petrópolis e, às vésperas da abolição, já subiam a mais de mil os fugitivos acolhidos e hospedados pela Princesa. Seu pai, o Imperador, também era abolicionista, pois premiava com títulos nobiliárquicos os fazendeiros que libertavam seus escravos.



Missa Campal em Ação de Graças pela assinatura da Lei Áurea
Foto: Antônio Luiz Ferreira







População aguardando a assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial
Foto: Antônio Luiz Ferreira






Sessão no Senado para votação da Lei Áurea
Foto: Antônio Luiz Ferreira
 
 

Nos planos da REDENTORA, estava também previsto, o financiamento de glebas para os escravos, quando da libertação. O reconhecimento dessa mulher deveria elevá-la à categoria de patrona da LIBERTAÇÃO, padroeira dos negros, SANTA ISABEL. Numa de suas cartas está este primoroso texto: 


“Fui informada por papai que me collocou a par da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do anno passado, e o sigilo que o Snr. pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. Deus nos proteja si os escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio pois seria o fim do actual governo e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil. (…) Com os fundos doados pelo Snr. teremos oportunidade de collocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas proprias trabalhando na agricultura e na pecuária e dellas tirando seos proprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seos bens, o que demonstra o amor devotado do Snr. pelo Brazil. Deus proteja o Snr. e todo a sua família para sempre!”


Até hoje não se sabe qual foi o destino dos fundos criados pelo Imprerador para doação aos ex-escravos, libertos em 13 de maio de 1888. 



Princesa Isabel e o Conde D´eu - no exílio 



O que estava previsto aconteceu. Um ano depois, cai a Monarquia a 15 de novembro de 1889 e, quando embarcava para a Europa, como exilada, perguntada se estava arrependida do que fez, respondeu, “mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil”, naquela oportunidade escreveu: 


“É com o coração partido de dor que me afasto dos meus amigos, de todos os brasileiros e do País que tanto amei e amo, para cuja felicidade esforcei-me por contribuir e pela qual continuarei a fazer os mais ardentes votos”, RJ, 16 nov 1889 – Isabel, Condessa d’Eu. 







Para melhor entendimento da questão da escravidão, ressalto que ela existe desde tempos imemoriais, os vencedores impunham aos vencidos, fossem brancos, vermelhos, amarelos ou que outra cor tivesse. O progresso trouxe outros tipos de escravidão, a linha de produção, a produção em série, é ou não é, um tipo de escravidão? obrigar o indivíduo a executar uma única tarefa por horas seguidas, todos os dias, ad eternum, estar concentrado todo o tempo; qualquer distração leva à saída de um produto sem qualidade... E os trabalhos nas minas, em ambientes insalubres, no subsolo, nas garagens, em salas hermeticamente fechadas? 


Imagem: Google

Herdamos a terra para nela vivermos, usufruirmos de suas riquezas e belezas, sermos felizes. O mundo moderno nos tirou essa herança. Abdicamos de tudo isso e nos conformamos com a situação. Vendemos para outros um terço de nossas vidas e ainda achamos que vale a pena. 




Somos escravos do tempo, do trabalho, do trânsito, nos afastamos da natureza, melhor, estamos destruindo-a, acreditando que não fazemos parte dela. Ela é nossa mãe, devíamos cuidar dela com amor e carinho, pois vivemos no seu regaço. A conta a ser paga, será cada vez mais alta para os nossos descendentes. E o que estamos fazendo para mudar esse quadro? Estamos preocupados com a escravidão que existiu no Brasil e aceitando o que nos impõe a sociedade como estilo de vida. 


Acredito que a sentença de um Juiz americano de que, “a maneira de acabar com a discriminação com base na raça é parar de discriminar com base na raça”, é verdadeira. Há 50, 60 anos atrás, falava-se menos em racismo, preconceito, politicamente correto, estamos chegando num ponto que, dentro em breve, não poderemos usar determinadas palavras para não sermos passíveis de sofrer um constrangimento judicial e/ou social. 








É isso que assistimos, com freqüência exacerbada na Bahia de todos nós. A todo momento fala-se nos direitos dos afro-descendentes, em políticas afirmativas, em pagamento de uma dívida histórica, como se os negros fossem uns pobres coitadinhos. Ser forçado a viver com um rótulo racial definido pelo Governo é inconsistente com a dignidade dos indivíduos em nossa sociedade. 




Foto: Revista Veja




Precisamos ser honestos, procurar melhorar a nossa qualidade de vida, não da forma que nos doutrinaram, que só seremos felizes se tivermos um carro, um barco, um determinado estilo de vida, um bom emprego, porque, queiram ou não, escravos já somos, ou não? 




Será que não estamos olhando pelo lado errado do telescópio?








Foto do perfil de Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos
Anésio Ferreira Leite é militar,
administrador de empresas e 
Diretor Presidente da ABRAF
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