O TÚNEL SECRETO DO FORTE SÃO MARCELO

Vista do Mercado Modelo e Forte São Marcelo
Foto: Google

Havia uma pergunta que todo visitante, encantado com a beleza do Forte São Marcelo, fazia antes do IPHAN fechar o museu: existe mesmo um túnel que liga o Forte São Marcelo ao mercado modelo? A pergunta embute histórias e fantasias sobre como sofriam os escravos que viviam no Forte e no porão do Mercado. Reza a tradição que "os escravos ficavam no subsolo do mercado e quando a maré enchia eles morriam afogados".

Subsolo do Mercado Modelo / Salvador-Ba
Foto: http://www.flickr.com/photos/fitinge/2122956103/

São histórias tristes e cruéis que não passam de "lendas urbanas". Entretanto vamos primeiro falar sobre o prédio que, hoje, conhecemos como Mercado Modelo. O edifício foi inaugurado no ano de 1861, no Reinado de Sua Majestade D. Pedro II, para ser Alfândega Imperial. Fotografias do século XIX mostram que parte do prédio ficava sobre o mar. Mas será que havia tráfico de escravos na Alfândega Imperial? De forma alguma. Como fora dito antes, o edifício foi inaugurado em 1861 e o tráfico de escravos fora abolido em 1850, onze anos antes.

Eusébio de Queirós

O próprio Partido Conservador, então no poder, defendia, no Parlamento, o fim do tráfico negreiro. À frente dessa defesa estava o ministro Eusébio de Queirós, que deu nome à lei de quatro de setembro de 1850, que pôs fim ao tráfico de escravos. Sendo assim, jamais poderia ocorrer tráfico em um órgão imperial. No forte São Marcelo também não havia escravos, mas sim soldados brancos que eram "caçados" para o serviço militar.

Túnel da Mancha / Euro tunnel
Foto: Google

O túnel que liga o Forte São Marcelo ao Mercado Modelo não passa de um mito. Podemos citar alguns motivos: primeiro não havia tecnologia na época, capaz de permitir tal construção. Caso contrário, o túnel da Mancha, aberto em 1994 entre a França e a Inglaterra, mas idealizado por Napoleão em 1802, teria sido obra do século XIX. O Coronel Beaumont chegou a fazer um furo subterrâneo de mil metros antes de abandonar o projeto.

Túnel da Macha

Quando o Museu do Forte São Marcelo estava aberto à visitação, monitores treinados contavam histórias baseadas em pesquisas. As exposições eram instrumentos pedagógicos que auxiliavam a aprendizagem de estudantes e turistas. Em uma das salas de exposições do museu do forte, painéis mostravam a Alfândega Imperial nos séculos XIX e XX, antes e depois do aterro do cais do porto.

Sala Memórias do Mar / Museu do Forte São Marcelo (o acervo foi todo perdido após o IPHAN fechar o museu)

Além de aprender sobre a alfândega, os visitantes podiam ver caixotes que eram utilizados para exportação e importação. Era uma forma dinâmica de conhecer mais sobre a História da Bahia e do Brasil. Contudo, lamentavelmente, não houve sensibilidade por parte da 7ª Regional do IPHAN. 


Uma parte da Memória da Bahia não pode mais ser mostrada.

Anderson Luis de Araújo Moreira
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