RENÚNCIA CRIMINOSA
“Os países
industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não
tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão
que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução
de seus intentos.”
Henry Kissinger- Secretário de Estado, EUA
O mundo vive,
claramente, uma mudança da ordem global que traduz a possível perda de poder
militar e econômico pelos pólos de poder centrados na Europa e nos Estados
Unidos. O Ocidente tem hoje 18% da população mundial, convivendo com o rápido
crescimento da Ásia e do Islã. A riqueza se transfere, em ritmo inédito, para a
Ásia, transformando a China em importante ator global. Tal situação incita ao
debate sobre o surgimento e queda de centros de influência global ou regional
com os conseqüentes e diferentes conflitos, militares, econômicos e políticos,
gerados pela transição de poder entre as potencias ascendentes e aquelas já
estabelecidas. Para qual tipo de “balanço de poder” caminhamos, tendo em
vista as disputas que vão surgindo pelas hegemonias, principalmente,
regionais? E com a transformação da unipolaridade em bipolaridade em face
do comportamento das potências emergentes, estas reunidas, em grupos variados,
em torno de interesses comuns, ou por vezes isoladamente, caso da China,
influindo na governança e economia globais, embora os Estados Unidos
permaneçam, ainda, como a superpotência militar? De que forma se apresentará a
nova ordem global e quais serão seus principais atores a médio prazo?
Foto: Google |
O Conselho Nacional
de Segurança dos EUA reuniu centenas de cientistas, em 2008, realizando uma
detalhada análise prospectiva, investigando as tendências mais prováveis de se
concretizarem, chamada de “Global Trends 2025: A Transformed World”
(Tendências Globais 2025: Um Mundo Transformado). As projeções indicam que,
antes de 2020, a China já superará os EUA em paridade de poder de compra. A
crise atual já possibilitou à China superar o Japão e a se tornar a segunda
maior economia do planeta. Em termos de expansão do PIB, o estudo destaca que o
Brasil não estará entre os líderes e mesmo na quarta posição mundial. O País
terá, a médio prazo, um PIB que não difere do tamanho atual da economia
chinesa. A projeção é de um crescimento abaixo daqueles que ocorrerão no
México, Argentina, Indonésia, China e Índia. Em renda per capita, a expansão
será abaixo da chinesa, da indiana e metade da vietnamita. “O grande
desafio do Brasil será o de manter a estabilidade e investir em infraestrutura
para permitir que essa expansão possa de fato ocorrer”. A grande novidade
dos próximos anos será a Índia, o país que mais crescerá. Em termos nominais,
seu PIB será o terceiro maior do mundo, encostado ao dos Estados Unidos. Os
indianos deverão superar o Japão, já em 2011, e o Brasil em 2014. Juntos,
americanos, chineses e indianos terão 50% do PIB mundial.
O Brasil, nessa
avaliação, é descartado como futura potência pela falta de políticas de Estado
e estratégias conseqüentes que visem eficiente sistema educacional,
investimentos maciços em infra-estrutura, em ciência e tecnologia e o
estabelecimento de um poder militar consentâneo com o perfil
político-estratégico de uma potência atuante em nível regional e global. Embora
o sucesso do agronegócio e a euforia com a descoberta de grandes reservas de
petróleo em águas profundas, a estatística indica que o País ocupa o 85º lugar
nos índices de educação da ONU, traduzindo a precariedade do sistema educacional,
e apresenta desenvolvimento científico-tecnológico de “principiante”, que não
permite maior agregação de valor aos produtos industrializados da pauta de
exportação. Mostra que o valor em matérias-primas nas nossas exportações vem
crescendo ano a ano e superando o valor em produtos industrializados.
Tornamo-nos satélite da China. Para melhor enfatizar, os últimos números
publicados apresentam investimentos em ciência e tecnologia da ordem de 402
bilhões de doláres nos Estados Unidos, 154 bilhões na China e 144 bilhões no
Japão. Como uma das maiores economias do mundo, vergonhosa e
irresponsavelmente, não investimos 1% do que investem os EUA. O gasto do Brasil
com satélites, nenhum deles aqui produzidos, sem lançadores nacionais e sem o
nosso controle, não chega a 10% do que gasta a Àfrica do Sul ou a Índia. Os
transponders do satélite que abriga a banda X, de uso militar, são ligados
ou desligados no exterior. Essas são causas, dentre outras, que “impedem o País
de decolar”, traduzindo a amarga previsão do “Global Trends”, de que o Brasil “tem
limitada habilidade para projetar-se além do continente, como player
importante no cenário mundial”. Peter Hakim, do Diálogo Interamericano,
afirma que o potencial do Brasil para liderar o continente é “restrito por
sua falta de disposição para arcar com os custos financeiros e políticos”
de tal empreitada. Ironicamente, acrescenta que os vizinhos “não têm um
desejo particular de serem representados pelo Brasil”.
As opções de Política
Externa do Brasil são limitadas, tendo em conta os recursos materiais
superiores das grandes potências estabelecidas O exercício da mesma se faz
dentro de um contexto de "soft balancing", isto é, envolve
estratégias institucionais, tais como a formação de coalizões ou ententes
diplomáticas circunscritas, como o “BRICS", para
restringir a influência dos centros de poder. Reforçando as
conclusões do "Global Trends 2025", a grande maioria dos
analistas políticos internacionais afirmam que, dos "BRICS", o único
país sem condições de tornar-se grande potência é o Brasil, pois, não tem poder
militar para fazer face às mudanças globais em andamento e plenas de conflitos.
Ao mesmo tempo, os demais países do “BRICS”, todos potências militares
nucleares, a exceção da África do Sul, cresceram nestes últimos dez anos, e
crescem, ainda, acima da média mundial, o que não ocorreu com o Brasil.
Sem qualquer dúvida,
a culpa por tal situação em que se encontra o País, mais uma vez perdendo o
trem da História, deve ser debitada à falta de um projeto de Nação, de visão
estratégica por parte dos governos da chamada Nova República, cuja Política Externa, posta em prática nesses
últimos 30 anos, é somente apoiada na retórica diplomática, vendendo um
pacifismo sem poder militar que o respalde. Não capacitaram o País como
potência global, isto é, não deram ao Estado condições para que atue como liderança
internacional no que diz respeito à normatização de regras para enfrentar
problemas transnacionais. Isto implica tanto questões referentes ao comércio
mundial como também às atinentes aos riscos da segurança internacional, em
níveis regional e global. Em ambos os casos, o Estado, quando potência,
desempenha o papel mais importante no âmbito da cooperação e dos processos de
negociação e, portanto, têm maior poder para influenciar nos resultados de seu
interesse. A razão do sucesso pode ser o maior potencial militar, que nunca
tivemos, até mesmo regionalmente, e/ou o maior poder econômico.
Enquanto isso ocorre,
de forma paroquial e insana, os áulicos do poder afirmam: Nunca antes,
neste País, estivemos tão bem! De forma paroquial, também, fazem Política
Interna olhando pelo retrovisor. Pão e água para as Forças Armadas, fator de
poder nacional. Politização do Ministério da Defesa, hoje moeda de troca
política. Aparelhamento da estrutura militar até mesmo com indivíduos
sem os valores indispensáveis ao meio militar. A começar pelo atual
ministro e seu assessor mensaleiro. Fazem de tudo para rachar a sociedade
brasileira com a contribuição dos poderes constituídos, afastados da realidade
vigente : cotas diversas para afro-brasileiros, negros, pardos, índios,
etc..; remoções de agricultores e mineradores produtivos de
imensas terras, ditas indígenas, gerando vulnerabilidades na Segurança
Nacional, pobreza e revolta; verbas milionárias são criadas para
pagar indenizações a revolucionários assassinos e terroristas; Bolsa família,
bolsa presidiário, etc...estimulando a leniência, a corrupção e a produção de
excrementos.
A tudo assistimos de
forma alienada e omissa. É uma renúncia criminosa a um destino maior a que a
Nação tem direito!
GEN MARCI ANTÔNNIO
FELÍCIO DA SILVA - Cientista Político, ex-Oficial de Ligação ao Comando e Armas
Combinadas do Exército Norte Americano, ex-Assessor do Gabinete do Ministro do
Exército e Analista de Inteligência.
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